Nelson Évora é, com todo o mérito, Medalha de Ouro Olímpica. Esforço, dedicação e talento seu. Visão, impulso e acompanhamento do Professor João Ganço. Como é evidente, chegar a campeão do mundo, chegar ao ouro olímpico não é para todos, de resto, é para bem poucos.
É sabido que são muitos os factores e as variáveis que produzem campeões, por isso tantos especialistas se debruçam sobre a temática, estudam, investigam, ensaiam, treinam as especialidades desportivas para descobrir fautores de resultados.
Atrevo-me, contudo, a afirmar que sem oportunidades de base, ninguém chega a campeão de coisa nenhuma.
Por isso, me interrogo em que medida não terá sido a política desportiva do Concelho de Loures (na época Loures ainda integrava as freguesias do actual Concelho de Odivelas) que proporcionou a oportunidade de se forjar um atleta da dimensão de Évora.
As notas biográficas que temos lido nos jornais, fazem referência a um (enigmático) Torneio de Loures, como ponto de partida das suas actividades competitivas no atletismo.
Importa esclarecer melhor que se está a falar de 3 iniciativas que se conjugavam na política desportiva municipal (não eram apenas estas, mas foi por estas que passou Nelson Évora): a Loures Atleta Jovem, o Troféu Corrida das Colectividades e o Centro de Treino de Atletismo (que o Município e a Escola Secundária da Ramada implementaram em conjunto, como muitos outros foram executados quer em escolas, quer em freguesias, quer mesmo em clubes do Município).
Os seus objectivos nunca chegaram a ser a "produção de futuros campeões", nem tal cabe aos municípios, mas do que já não se pode duvidar - creio - é que propiciar as oportunidades, conceder os primeiros apoios, viabilizar as prestações competitivas, num quadro de politica desportiva local coerente e integrada pode ter o maior valor desportivo e humano. Évora tem revelado estatura de campeão, para além da extensão dos seus magníficos saltos.
Quem não é campeão de certeza são aqueles que na actualidade, desprezam e procuram arrasar não só a política desportiva daqueles tempos, como tratam com desdém o empenho e as propostas técnicas para que se prossiga e faça evoluir a política desportiva que demonstra obter resultados.
Bem se percebe que para se manterem no poder querem fogo de vista imediato. Querem poder tirar retratos ao lado dos desportistas. Por essas razões, as suas apostas são superficiais. Em vez da formação, preferem contratar empresas - ou dar facilidades a grandes clubes - que tragam nomes sonantes das modalidades. Um verdadeiro fast-food desportivo.
Se não como se explicaria que o Estádio do Grupo Sportivo de Loures apesar de prometido, não nasça ? Como se explicaria que o estádio para o atletismo que estava previsto tenha sido morto e enterrado ? Como se explicaria que os apoios ao Desenvolvimento do Atletismo, do Basquetebol, do Voleibol, do Judo, do Xadrez, etc., etc., etc., não cresçam e bem pelo contrário ?
Aí está, o exemplo de Nelson Évora, para lhes mostrar que estão errados e que se calhar, Évora será um resultado mais visível, bem visível, de uma política desportiva certa no tempo certo.
Cabe-me por isso homenagear, alguns daqueles que fizeram essa aposta e que se sentirão uns, ou sentiria outro (se estivesse entre nós) gratificados pelo acerto das suas decisões e dos caminhos escolhidos: Severiano Falcão, Demétrio Alves, Adão Barata e António Marques Ribeiro e Paulo Piteira ao nível político. Ao Professor Carlos Luz e ao Técnico e ex-atleta Fernando Fernandes, bem como a todos os dirigentes, técnicos desportivos e professores das escolas e clubes que acreditaram, impulsionaram, apoiaram e souberam aproveitar a política desportiva municipal, durante muitos anos.